Patrimônio: Para Você Ganhar e Viver Melhor – Mauro Halfeld
Como vocês já devem saber, eu sou fã do Mauro Halfeld. Seu primeiro livro, Investimentos: Como Administrar seu Dinheiro, é uma obra-prima. De fato, foi um dos primeiros livros que eu li sobre educação financeira e mudou completamente a minha forma de pensar. Graças aos ensinamentos de Halfeld, vi que alugar um imóvel não necessariamente é “pior” do que comprar. De fato, seguindo o raciocínio apresentado neste outro livro, eu quitei meu apartamento, o vendi, apliquei o dinheiro e passei a morar de aluguel. Este foi o alicerce fundamental da minha independência financeira, pois o dinheiro rendeu muito mais do que se eu tivesse o deixado parado “investido” no meu imóvel próprio.
Por isso este novo livro de Halfeld me causou profunda estranheza. Ele agora passou a recomendar a compra do imóvel próprio financiado (?) e inclusive sugerindo a pessoas a poupar dinheiro para dar de entrada na casa própria (??), que são obviamente péssimos conselhos (pelo menos enquanto juros de financiamentos forem maiores do que juros obtidos em investimentos e a rentabilidade de investimentos for maior do que o percentual que o valor de um aluguel representa do imóvel alugado).
De duas uma. Ou o Halfeld cedeu à pressão das inúmeras pessoas que, em vez de respirarem fundo e entenderem que o pensamento “imóvel próprio é o melhor investimento” não passa de mito, rebateram ferrenhamente os pensamentos ensinados no primeiro livro do autor (normalmente tendemos a criticar tudo aquilo que “bate de frente” com as nossas crenças), ou então o financiamento passou a fazer sentido com a queda das taxas de juros. Seja como for, em momento algum o autor explica o motivo da mudança de sua recomendação, fazendo com que o trabalho deste autor pareça completamente esquizofrênico.
Há alguns outros problemas neste livro. O autor abre o livro falando da crise de 2008. Isso é ruim porque em pouco tempo o livro fica datado. Nos primeiros capítulos o autor fala o tempo todo em procurar fundos de investimento “com baixas taxas de administração”, mas ele só vai explicar que ele considera bom investimento fundos com taxas de administração de 2% ou menos mais para o final do livro. O livro apresenta uma série de perguntas enviadas por seus leitores. Eu gosto dessa ideia, como já comentei na resenha do livro “Investimentos Inteligentes“, do Gustavo Cerbasi, o problema é que as perguntas não dão muitas informações sobre a real situação do leitor, fazendo com que o autor faça sempre o mesmo tipo de recomendação conservadora (invista no Tesouro Direto) ou perigosa (compre imóvel financiado ou poupe para dar uma entrada em um imóvel financiado).
Para complicar a situação, há dois erros mais graves no livro.
Na página 51, tópico “Como investir em ouro” o autor diz: “Interessados em investir em ouro devem procurar barras custodiadas na Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F)”. O livro inteiro é voltado a iniciantes, mas de repente o autor recomenda o leitor a procurar a BM&F sem dizer como. Além disso essa não é a forma mais fácil de se investir em ouro (a mais fácil e barata é a compra de moedas de ouro) e há muita picaretagem em títulos representativos de ouro (empresas oferecem títulos que representam uma quantidade “x” de ouro mas elas não tem o ouro “em estoque”, mas cobram taxa de armazenagem mesmo assim). Ou seja, fica claro que o autor não tem a menor ideia do que está falando.
Nas página 78 e 79, tópico “Vale a pena entrar num consórcio de imóveis”, o autor solta as seguintes pérolas: “Mas quem banca isso? Não é a administradora. São os azarados que não conseguem ser premiados no início. Eles passam dez, doze ou até quinze anos pagando prestações do consórcio (…)” e “Nunca encontrei alguém que entrasse num consórcio de imóveis pensando em comprar a casa própria dali a quatorze anos. Só que o papel do azarado precisa ser preenchido por alguma pessoa…”. Comentário cheio de preconceito de alguém que sequer sabe como consórcios de imóveis funcionam.
Explico. Em um consórcio de imóveis típico de 15 anos, são dadas duas cartas de crédito por mês, uma por lance e outra por sorteio. Como em um grupo há 180 participantes (180 meses ou 15 anos) e há duas cartas sendo distribuídas por mês, não precisa ser nenhum gênio da matemática para saber que o “último” sorteado será contemplado exatamente na metade da duração do grupo, 90 meses ou sete anos e meio… Essa história de dez, doze ou quinze anos citada pelo autor não corresponde à realidade.
Eu pessoalmente não sou fã de consórcios de imóveis, mas entre não ser fã e falar algo que não corresponde à realidade há uma diferença enorme.
Do lado positivo do livro há a explicação do Tesouro Direto em detalhes, com exemplos.
Assim, apesar dos pontos negativos do livro, ele pode ser uma boa pedida se você estiver interessado no Tesouro Direto. Se comprá-lo, leia com um olhar crítico, pois na minha opinião os conselhos apresentados neste livro muitas vezes não são adequados.
Conclusão Final: Neutro
Ficha Técnica
Título: Patrimônio: Para Você Ganhar e Viver Melhor
Autor: Mauro Halfeld
Editora: Globo
Número de Páginas: 112
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